Tarifaço de Trump: Governo do Ceará decreta situação de emergência
04/09/2025
(Foto: Reprodução) Entenda como as tarifas de Trump impactam a economia do Brasil
O Governo do Ceará decretou nesta quinta-feira (4) situação de emergência em meio ao tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O Ceará é um dos estados brasileiros mais impactados, o que preocupa setores da economia.
O novo decreto vai permitir que o estado acesse recursos do orçamento que são reservados para situações de emergência. A medida foi publicada no Diário Oficial do Estado.
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No dia 7 de agosto, o governo estadual já havia sancionado uma lei que autorizava o Poder Executivo a tomar uma série de medidas em apoio às empresas, entre elas:
auxílio financeiro às empresas que exportam para os Estados Unidos;
compra de produtos dessas empresas para atender equipamentos do Governo;
antecipação de pagamento de créditos;
aumento de incentivos fiscais, além da instalação do Comitê Estratégico para acompanhar a aplicação das medidas.
A lei aprovada em agosto já informava que os recursos para custear as medidas seriam advindos de créditos extraordinários - ou seja, que não estavam previstos inicialmente no orçamento.
Com o novo decreto em que reconhece a situação de emergência, o governo estadual altera um artigo da lei aprovada em agosto e indica de onde vai tirar o dinheiro para bancar as medidas.
De acordo com a Secretaria da Casa Civil, o decreto permite ao Governo do Ceará "a utilização de uma rubrica do orçamento prevista como reserva de contingência, específica para situações de emergência. O objetivo é viabilizar a execução das medidas de apoio às empresas atingidas pelo tarifaço dos EUA, garantindo, assim, a manutenção dos empregos dos cearenses".
Entenda o que o Ceará pretende fazer para frear prejuízos causados por taxação de produtos.
Reprodução/TV Verdes Mares e REUTERS/Evelyn Hockstein
Como parte das medidas já em andamento, o governo lançou um edital, por meio da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), para a compra dos produtos agrícolas de empresas cearenses afetadas pelas tarifas. As inscrições do edital encerram na sexta-feira (5).
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🔎🤔 Como as tarifas funcionam? Essencialmente, a taxação extra é aplicada diretamente no preço do produto vendido. Assim, o comprador americano, que antes adquiria um item, por exemplo, por US$ 100, passaria a pagar, pelo menos, US$ 150. O produto taxado perde competitividade, o que pode fazer o importador americano deixar de comprar do Ceará, e as indústrias cearenses deixariam de vender para seu principal mercado.
Pescados são o segundo produto cearense mais vendido para os EUA
José Leomar/SVM
Por que a economia do Ceará é tão interligada à dos EUA?
A resposta está no principal produto de exportação cearense: aço, ferro e semelhantes.
“Basicamente, essa ligação está vindo das exportações da siderurgia. O Ceará exporta para os Estados Unidos produtos semi-acabados, lingotes e outras formas primárias de ferro ou aço. Então, só essa parte é responsável por cerca de 76,5% das exportações do Ceará para os Estados Unidos”, explica o economista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), João Mário de França.
No primeiro semestre de 2025, o Ceará exportou mais de US$ 1,1 bilhão de dólares. Desse total, US$ 528 milhões foram de produtos de siderurgia, cerca de 49%. Isto é, o setor foi responsável por quase metade de tudo que o Ceará exportou de janeiro a junho deste ano.
Processo de produção de placas de aço na Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará.
Divulgação
De janeiro a dezembro de 2024, o cenário foi parecido. Neste período, os principais produtos cearenses exportados para os EUA foram:
Ferro fundido, ferro e aço (US$ 441,3 milhões);
Peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos (US$ 52,8 milhões);
Preparações de produtos hortícolas, de frutas ou de outras partes de plantas (US$ 37,2 milhões);
Calçados, polainas e artefatos semelhantes; suas partes (US$ 36,9 milhões);
Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua dissociação; gorduras alimentares elaboradas; ceras de origem animal ou vegetal (US$ 16,7 milhões)
Ceará tem maior dependência, mas não é maior vendedor
O Ceará é, proporcionalmente, o estado brasileiro mais dependente dos Estados Unidos para exportações. Em 2024, 44,9% dos produtos cearenses foram para lá. Em comparação, o segundo lugar, o Espírito Santo, vendeu 28,6% dos seus produtos para os EUA.
Estados Unidos são os maiores compradores de produtos cearenses
Thiago Gadelha/SVM
O volume de vendas do Espírito Santo em 2024, por exemplo, foi maior que o volume cearense: o estado vendeu US$ 3,1 bilhões, enquanto o Ceará vendeu US$ 659 milhões. Naquele ano, participação dos EUA nas exportações do Espírito Santo foi 28,6%, abaixo dos 44,9% do Ceará.
Apesar da alta proporção de vendas do Ceará para os americanos, em 2024 o estado foi apenas o décimo segundo maior exportador do Brasil para os EUA. Nesse aspecto, o estado que mais vende para os EUA é São Paulo. Em 2024, os paulistas exportaram US$ 13,6 bilhões para lá, o que corresponde a 19% dos produtos paulistas vendidos em 2024.
Em meio ao imbróglio das tarifas, uma alternativa apontada tem sido a diversificação dos mercados compradores de produtos brasileiros. A ideia, embora bem-vinda pela indústria e pelo governo, exige tempo, podendo levar de meses a anos, enquanto o impacto das tarifas já pode ser sentido em semanas.
Mesmo nesse movimento de diversificação de mercados, você exige um tempo, exige novos contatos. Abrir mercados não é uma coisa tão simples. Então, você tem que ter esse contato da empresa local com alguma importadora de outro país, divulgar o seu produto. Então, é possível, mas é um processo que leva tempo. Por isso que, no curto prazo, o que está sendo buscado é essa negociação com o governo americano para que haja alguma redução dessa tarifa
Porto do Pecém é o principal ponto de escoamento das exportações do Ceará
Divulgação/Tatiana Fortes/Casa Civil
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